Resenha: Sunset Orange

O primeiro mangá yuri do Brasil…

Não é de hoje que a NewPOP vem se destacando como a editora que mais aposta no diferente, oferecendo gêneros de histórias que as concorrentes pouco ou nunca trazem. Mangás joseis, hentais, yaois, etc, a empresa realmente traz de tudo um pouco, mas ainda faltava outro gênero muito pedido e que continuava inédito em nosso país, o yuri.

Aos que não sabem, yuri é um termo utilizado para se referir a obras que mostram um relacionamento amoroso e/ou sexual entre duas mulheres. Não se tratam de obras “doutrinárias”, “didáticas” ou que levantem a causa LGBT, são obras de romance e erotismo comum com o diferencial de essas obras mostrarem um relacionamento entre duas mulheres. Geralmente essas obras são voltadas ao público masculino, mas existem algumas que abrangem o público feminino e lésbico.

No dia 21 de janeiro de 2017, a NewPOP supriu essa lacuna em nosso país e anunciou duas obras desse gênero: Sunset Orange, de Rokuroichi, e Philosophia, de Amano Shuninta, ambos de apenas um volume. O primeiro a sair foi Sunset Orange no mês de junho e é dele que falaremos nesta postagem.

Também chamado de Kuchibiru ni Suketa Orange e pubicado na Comic Yuri Hime, talvez a revista de temática yuri mais famosa do Japão, o mangá  não era um dos mais esperados pelos fãs do gênero (que sempre pedem títulos mais famosos como Citrus), mesmo assim é um mangá interessante e que merece uma análise, não apenas por ser o primeiro do gênero em nosso país, mas também por ter uma história agradável, misturando o clima slice of life, com romance, drama e erotismo.


Sinopse Oficial


Ao se apresentar para sua classe, Kanae, uma linda aluna que veio de Tóquio, imediatamente conquista o afeto de Chizuru. Ela torna-se completamente fixada em Kanae e sua beleza, fazendo sua mente ficar cada vez mais preenchida por sua colega de classe. Quando ela entra para o círculo de amizade de Chizuru, esse afeto começa a crescer continuamente. Será que irá nascer um sentimento além da amizade? Ou o desejo de Chizuru por Kanae dará lugar a coisas ruins?

A obra ainda inclui dois one-shots


Desenvolvimento


Em uma fria análise, Sunset Orange não é outra coisa senão um romance escolar como outro qualquer e, de início, um romance chato e extremamente clicherizado. Todo o clima da obra é aquela velha mistura do cotidiano das pessoas com um draminha pessoal da protagonista que vê o seu objeto de amor como inalcançável. A obra foca-se no amor impossível de uma menina sem grandes atrativos, Chizuru, por uma pessoa considerada extremamente bonita. Convenhamos, nada que não tenhamos visto antes em outras histórias de romance escolar…

Só que Sunset Orange não é apenas isso. O mangá consegue sair de um início meio tedioso para uma história que empolga, com pequenas doses de erotismo e nos traz um resultado final muito bom, ainda que tenha percalços.

De início, o ritmo da história é lento e as situações parecem específicas demais e pouco credíveis, ao ponto de você não conseguir entender a protagonista e se afeiçoar por ela. A história basicamente centra-se em Chizuru admirar Kanae e, em razão disso, querer se parecer com ela, comprando as mesmas que a garota, até que em um dado momento ela se descobre apaixonada por sua colega de classe.

Bastam algumas páginas a mais e um pouco de acontecimentos para percebermos de forma mais clara os sentimentos da garota, e logo passamos a torcer e nos importar pelos sentimentos da menina, afinal trata-se de um “amor proibido” ou de difícil aceitação. Há toda uma preocupação por parte de Chizuru em esconder esse sentimento por Kanae, em virtude de, na cabeça dela, ser algo “errado” e digno de reprovação por parte das outras pessoas*. Além do que seria algo realmente impossível, afinal as chances de Kanae gostar dela eram mínimas..

Daí para o final a história se adensa, com mais questionamentos, indecisões e o erotismo aflorando. Inclusive, há cenas de masturbação e sexo e, ainda que sejam mostradas de forma contida e romantizada, justificam o mangá ter o selo +18.

O grande problema do mangá é a parte final, o desenvolvimento do romance propriamente dito. A gente vê alguns indícios de que Kanae tem sentimentos recíprocos por Chizuru, mas o fim é muito rápido e o “””romance””” acontece do nada, lembrando vários e vários mangás hentais em que de uma hora para outra duas pessoas já estão na cama.

Ainda assim, Sunset Orange consegue passar uma história de romance interessante e prova ter sido uma escolha acertada para o primeiro yuri da editora NewPOP. Decerto, se você gosta de slice of life muito provavelmente irá gostar também desse mangá. E se você gosta de obras eróticas, também certamente gostará desse título^^.

*Quando dissemos na introdução que mangás yuris não levantam a causa LGBT é muito por causa disso. Há uma preocupação por parte de Chizuru de seu amor ser algo reprovável, mas isso não é posto em discussão em momento nenhum. Não é uma obra para fazer você refletir de forma intensa sobre a questão dos homossexuais, do como eles são tratados ou dos preconceitos sofridos por eles. Sunset Orange é um mangá de romance e erotismo e é assim que você deve encarar a leitura. Você não deve começar a ler obra buscando uma coisa mais séria e uma reflexão, do contrário irá se decepcionar…

Histórias extras


O mangá não possui apenas a história “Sunset Orange” que discutimos acima, ele tem dois one-shots curtinhos que foram postos para conseguir reunir um volume mais encorpado, já que a história inicial é curta. Eles se chamam “Mantenha o coração fechado” e “Eu não sei se isso é amor” e, de imediato, podemos dizer que as histórias são bem mais eróticas que a narrativa principal.

Por serem histórias curtinhas, elas vão direto ao ponto, mostrando o relacionamento amoroso/erótico/sexual desde o começo. Para quem deseja erotismo, os dois one-shots são um prato cheio. É claro que não se tratam de hentais (o máximo que é mostrado são os seios das personagens), então há uma historinha dramática envolvendo o amor entre duas garotas que, obviamente, será resolvido. São histórias bobinhas, mas interessantes de se ler também. Oferecem um bom complemento à narrativa principal.


A edição nacional


O mangá veio no formato 15 x 21 cm, o mesmo de títulos como Usagi Drop e O cão que guarda as estrelas, miolo em papel offset e uma página colorida em couchê. Além disso, como ocorre em todas as obras da editora, o mangá possui costura interna, permitindo que você consiga abrir o mangá completamente sem medo que as páginas caiam. Outro ponto a se notar são as capas internas coloridas, em uma cor laranja.

Internamente, a edição da NewPOP é aquele padrão atual da editora, não apresentando nenhum honorífico e tendo poucas notas de rodapé, resultando em uma leitura bem fluída e sem percalços. Há apenas um erro de revisão, uma evolução…


Veredicto


Como narrativa, Sunset Orange é bastante clichê se olhar bem, mas nem por isso é ruim. Se você gosta de narrativas românticas, decerto irá gostar desse mangá, pois a obra não é outra coisa senão um romance, ainda que tenha pitadas de erotismo.

Por ser um título +18, e de volume único, ele tem os mesmos problemas narrativos de várias histórias eróticas publicadas no Brasil, como os hentais da Alto Astral, com as coisas acontecendo muito rápido, sem um grande desenvolvimento. Ainda assim, a obra é um slice of life realmente interessante e que vale a pena a leitura.


Ficha Técnica


TítuloSunset Orange

Autor: Rokuroichi

Editora: NewPOP

Acabamento: Papel offset + páginas coloridas em couchê

Número de volumes: 1

Preço: R$ 21,90

Onde comprar: AmazonNewPOP Shop

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6 Comments

  • Apesar de não achar ela a melhor obra para ser o primeiro yuri, espero muito que dê certo. Tenho ela em japonês, mas vou comprar para incentivar o gênero.

  • Eduardo L.

    Não vou pegar essa obra, mas deixo aqui meu descontentamento com a distribuição da NewPop. No ES é impossível encontrar seus títulos, sendo necessário recorrer à lojas online, o que desvaloriza, e muito, o mercado local e prejudica o pequeno varejista.

    • Roses

      Eduardo, na verdade não, quem faz os pedidos de obras são as lojas e varejistas. São sistemas diferentes, às bancas recebem das distribuidoras obrigatoriamente (tendo assinado contratos), as lojas fazem comprar ou acordos de revenda com as editoras. Se a obra não está em nenhuma loja local e pequena é porque o PRÓPRIO varejista não estava interessado em revender aquilo ou não sabe de sua existência. Não é uma questão de distribuição, é uma questão de interesse dos lojistas. Embora a editora tenha que fazer sua parte e expor seu produto, mandar releases e tal para os pontos de venda.

      A melhor coisa que você faz é pedir, encomendar e reclamar da falta de produtos da editora que você quer para o lojista. Assim ele percebe que essas obras têm clientela e passarão a trabalhar com a editora em questão.

      É assim que funciona qualquer loja de revenda, incluso supermercados e mercados, por isso mesmo eles tem aquelas fichas de “não encontrou algo que procurava?”, é eles quem precisam ir atrás. Editoras não tem qualquer poder sobre o que a loja vai vender, ela só pode fazer propaganda e tentar estimular o varejista. Entende? Isso vale para qualquer editora, JBC, Panini, Darkside, L&PM, não achou? Peça, reclame, mostre interesse. Só assim as coisas mudarão. Deixe bem claro que o cara perdeu uma possível venda.

      • EDUARDO L.

        Muito obrigado pelas informações Roses! Não fazia ideia de que funcionava nesse sistema que você descreveu!

    • Só para complementar o que a Roses disse:

      Tinha tudo da NewPOP e demais editoras na livraria Leitura do Shopping Vitória. Era o melhor lugar para se comprar mangás no ES. Mas ela fechou 🙁 .

      Agora que a Saraiva passou a ter novamente produtos da NP em seu site, torna-se mais fácil ter os produtos dela em lojas físicas, mas aí entra o trabalho do consumidor de pedir para tais lojas…

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