Desmistificando: Lugar de mangá não é nas bancas!

SDC10440Ainda estamos presos ao passado…

Quando se lançou os primeiros mangás no Brasil, 15 anos atrás, as empresas decidiram vender seus produtos em volumes finos e com preços bem mais baratos nas bancas de jornais. A ideia era que os leitores de outros quadrinhos infantojuvenis como super-heróis (Marvel/DC) e Turma da Mônica comprassem. Era o público que assistia aos desenhos animados, por isso eram todos quadrinhos dos desenhos: Sakura Card Captors, Dragon Ball, Pokémon, Gundam Wing, Digimon, Medabots.

Mas a coisa muda, hoje em dia a grandíssima maioria dos títulos nunca tiveram seus desenhos no Brasil de forma legal ou na TV aberta. Sem contar que a faixa etária do consumidor saiu dos 12-16 anos e partiu para os 18-25. Então… Por que diabos os mangás ainda são primariamente vendidos nas bancas?

(Texto originalmente lançado em março de 2016, quando praticamente todos os mangás eram vendidos exclusivamente em bancas. Levemente atualizado em 2017.)


Porque não vender mangás nas bancas


I. Pouco espaço para muito título e más condições

Já passou da época que bancas normais suportavam o volume de títulos que temos todos os meses sendo lançados. Na prática a maioria das bancas recebe quantidades relativamente pequenas, que ficam todas empilhadas uma atrás das outras, nos cantos mais macabros possíveis e sempre os mais baixos, claro, sem nenhuma lógica de organização e a céu aberto recebendo umidade, poluição e muita poeira. Que tipo de empresa quer que seu produto seja exposto dessa forma, sem a menor visibilidade? Que tipo de leitor quer um produto assim e acha isso tudo confortável?

Mangás não são “revistinhas em quadrinhos”, são livros. Lugar de livros é em livraria ou lojas especializadas, onde são devidamente organizados, onde se há espaço para expor todos eles e ainda espaço para manter os volumes por mais tempo.

Imagina o absurdo que seria ir comprar Tim-tim, Asterix, 300 ou Sandman na banquinha da esquina? Porque você acha normal para os mangás?

Essas más condições também causam muita perda, muito amassado, muito volume com rasgo, embalagem estragada. Embora várias dessas perdas aconteçam também durante o envio e transporte da distribuidora.

II. Não têm estoques de volumes antigos

Você vai na banca e por acaso vê um título que te interessou, só que ele está no volume 10, como você vai conseguir comprar o resto dos volumes? A maioria dos novos leitores não tem a menor ideia. Pior, a maioria dos leitores mais velhos também não. A resposta é sempre “vai na internet”.

A verdade é que qualquer outro quadrinho ou livro, basta ir numa livraria e ver se há para vender. Se eles não têm, faz-se um pedido e eles trazem. Agora nas bancas… A maioria dos jornaleiros não consegue te dar respostas ou não está interessada, mas no fundo não há nada que possa fazer.

Como você utiliza uma plataforma de vendas que não possibilita a venda de números antigos? Isso faz todo o sentido apenas para jornais, palavras cruzadas, revistas. Quem vai querer comprar os jornais dos últimos 12 meses na banca?!

III. Distribuição encarece e muito o produto final

Sim, pois o Brasil é um país de dimensões continentais, o quinto maior do mundo! Quanto você acha que custa mandar caminhões cheios de produtos de um lado a outro, sair espalhando em milhares de bancas e depois recolher tudo isso? Resposta: Caríssimo.

Pensa no gasto de gasolina e diesel… As coisas não vão direto para a banca, após sair da editora, os pacotes vão para uma das sedes da empresa que distribui os mangás em banca, que então os separa e envia para diversos centros de distribuição, que enviam para outros menores até chegar na sua região, onde uma van ou caminhão passa pela cidade toda de banca em banca distribuindo. É muita coisa!

E quem paga por isso tudo? Você! Mesmo comprando em lojas especializadas, livrarias e internet, você ainda está pagando o pato por todos os mangás que vão às bancas.

Há também outro inconveniente. Se você quer lançar nas bancas você fica na mão da distribuidora Dinap que, segundo fontes diversas, chega a mais de 50% do valor de capa, cinquenta porcento. Agora, com bancas e lojas especializadas a coisa é outra, existe apenas a porcentagem do vendedor e um custo muito mais baixo de envio do material por transportadoras, diretamente ao ponto de venda.

Ou seja, seu mangá poderia ser bem mais barato e isso poderia viabilizar mais várias obras de nicho, como a editora NewPOP faz com várias, como os Tezukas. E a JBC tem feito também com seus BIGs.

Talvez alguém aqui possa questionar: “Mas BIGs e Tezukas não são mais baratos!”. Na verdade são, não estamos fazendo a comparação entre séries diferentes, mas entre o preço daquela série na banca e o preço se apenas na livraria. O motivo desses serem mais caros que outras obras está mais relacionado ao número mais reduzido de consumidores do produto e o fato de serem diferenciados em tamanho.

Vale lembrar que o preço de um mangá é determinado por diversos fatores, como tiragem, formato e distribuição. É a soma deles que define o preço. A distribuição em bancas será sempre mais cara do que a em livrarias, dado o mesmo formato, tiragem, etc. Da mesma forma, quanto menor o formato (menos páginas, menor dimensão, menor gramatura) e maior a tiragem, mais barato é o produto final.

BIGs podem ter preço alto nas livrarias, mas seria ainda mais alto nas bancas. Veja que Drug-On (mangá lançado exclusivamente em livrarias) tem um preço baixo (R$ 14,00), mas seria mais alto nas bancas. Leia mais sobre essa dinâmica de custos aqui.

IV. Tiragens grandes para viabilizar a publicação

Como é bem caro distribuir em bancas, as editoras precisam fazer tiragens maiores para viabilizar a publicação. Em outras palavras, para valer a pena ser lançada a obra tem que vender muito mais do que se fosse lançado apenas em livraria para dar o mesmo lucro.

Isso não só vira um perigo de cancelamento e de prejuízo das obras que não atinjam esse número mínimo, como inviabiliza os nichos de menor público. Para você ter uma ideia, vários livros lançados no Brasil têm tiragens de 1~3 mil, número esse que é impensável em bancas, mas lucrativos em livrarias.

Não é à toa que a JBC lançou Éden e Blade para livrarias, isso permite tiragens menores, ou seja, um público limitado, sem impedir a editora de lucrar, ou ainda, dando a mesma margem de lucro que a série de tiragem muito maior das bancas.

Outro ponto é os volumes extras que são publicados apenas para fazer volume nas bancas. Isso acontece com todas as publicações, o Estadão, por exemplo, sempre envia muita mais edições do que são compradas, a ideia é não haver esgotamento, é que qualquer um possa conseguir comprar em qualquer hora do dia. Até porque, se houver tal esgotamento, uma redistribuição sai muito cara e às vezes é bem difícil de conseguir reestoque com a distribuidora.

Ter vários volumes também serve de propaganda, destacam aquele título, fazendo-o ficar mais visíveis em meio a todos os outros. Mas ainda assim, representam um custo a mais que nas livrarias não se faz necessário.

V. As editoras não têm controle sobre a distribuição

Uma vez que a editora entrega seus produtos para a Dinap (única distribuidora que leva os produtos a todo território nacional), acabou o controle da empresa sobre o que vai acontecer. Quem recebe, quando recebe, onde recebe fica na mão da Dinap. A editora tem é claro, que pagar por tipos diferentes de “pacotes de serviço” que regem o que a Dinap devia fazer, mas fora isso a editora não sabe quais cidades não estão recebendo, que bancas estão, que cidades foram puladas, etc.

Por isso mesmo acontece aqueles velhos “erros de distribuição”, cidades que não recebem, volumes pulados, retirada antes da hora, recolhimentos quase que instantâneos, sumiço de pacotes que aparecem depois de anos em algum estoque, caixas que voltam lacradas e intocadas… As histórias que os gerentes contam nos eventos são muitas!

Não adianta nada você ir reclamar na editora que a banca x não está recebendo os mangás. Ela não tem controle algum. O pior, como a Dinap tem monopólio na distribuição nacional, não existem opções, ou você trabalha com ela ou não tem lançamento em banca. Não preciso nem comentar que monopólio significa que o serviço nunca melhora, a falta de competição faz a empresa cair em vícios e falhas que seus consumidores não têm outra escolha a não ser aceitar. (Tipo a competência dos Correios, sabe?)

Por outro lado, quando é ela quem distribui seus produtos para livrarias e lojas ela sabe exatamente para quem está enviando, o quanto, onde vende mais, onde fazer algo promocional, etc. Isso viabiliza também reimpressões!

VI. Distribuição nacional e não setorizada

O único motivo para a “distribuição setorizada”, ou “em fases”, existir é tentar tornar mais viável e barato essa loucura chamada distribuição às bancas. Essa distribuição só se aplica às bancas.

Para as livrarias e lojas especializadas os pedidos chegam ao mesmo tempo no Brasil todo através de transportadoras e para pedir mais basta um mísero telefonema para a editora que mais mangás são enviados.

Acaba essa palhaçada de focar em São Paulo e deixar o resto do Brasil na espera (às vezes de mais de um ano, sério). O que não só é benéfico por si só, permite o desenvolvimento do mercado das outras localidades órfãs como o nordeste e o sul que possuem enorme quantidade de leitores ignorados e menosprezados, deixados com os restos estragados de São Paulo (sem exagero, os mangás às vezes chegam super maltratados).

Recentemente temos tido uma onda de extinção dessa setorização e mudança de distribuição (que segundo fontes tem a mão da Dinap ali), mas ainda temos a Panini, por exemplo, trabalhando em fases.

VII. Pré-venda e assinatura

Como fazer pré-venda nas bancas? As livrarias e lojas especializadas recebem com maior antecedência a lista do que as editoras lançarão e já começam a vender em pré-venda os títulos. Você recebe o material assim que for lançado e recebido pela loja.

Nos Estados Unidos, por exemplo, você tem pré-vendas com meses de antecedência. É possível comprar toda uma coleção e simplesmente se desligar totalmente dessa chatice de ter que ficar conferindo lançamentos. Sente em casa que a Amazon vai te mandando. A Amazon do Brasil é ainda nova e despreparada, mas ela já criou até um portal de quadrinhos e já possui algumas de suas facilidades. Quem sabe com o aumento de vendas eles fiquem igual a Amazon.jp e a Amazon.com?

Assinatura das editoras vira algo desnecessário, afinal são um tipo de pré-venda. No Brasil mesmo, a Universo Lúmina faz exatamente isso, ela deixa você comprar séries inteiras de uma vez e vai te enviando conforme é lançado. Quer maior conforto?

Isso tudo torna o sistema de assinaturas mais viáveis. Caso não saiba, é bem caro fazer assinaturas pois dependem dos Correios (que é uma facada), mas empresas grandes como Amazon, Saraiva e outras não dependem dos Correios, mas de transportadoras próprias. Quem está mais apto a fazer assinaturas e pré-vendas em conta são elas e não a sua editora. Fora que toda essa “venda” direta acaba resultando em mão-de-0bra extra e custos extras para a editora que agora virou uma lojinha.

VIII. Limitações quanto ao acabamento e promoções

Fato: muitas bancas ainda não aceitam outros métodos de pagamento que não seja dinheiro. Fato: as que aceitam não trabalham com pagamento a prazo ou dividem.

Então como posso lançar mangás mais caros de melhor acabamento? Qual a possibilidade de uma pessoa dar um “rolé”, se interessar e tiver trinta reais por volumes dando sopa para pagar na hora?  E se não dá para parcelar e você só pode comprar no próximo mês, você descobre que no próximo mês não tem mais…

O acabamento também fica comprometido por causa das más condições. Lançar com sobrecapa? Só para estragar tudo na mão da distribuidora e banca? Ou a velha desculpa de lançar capas espelhadas por causa dos jornaleiros que expõe do lado errado.

Sem contar que por causa da má condição alguma editoras colocam uma capa plástica para proteger, o que impede o simples ato de folhear o produto, você tem que comprar cego.

As desvantagens continuam com as impossibilidades de trazer certos tipos de brindes ou fazer certas ações promocionais. A NewPOP, por exemplo, costuma enviar vários marcadores de papel (que são feitos com as sobras do papel cartonado da capa) para as livrarias e lojas especializadas. Como fazer algo assim em bancas?

Como poderia a editora fazer cartazes e pôsteres para divulgação nos pontos de venda? Onde o jornaleiro ia conseguir prender essas coisas? Como mandar isso ao jornaleiro?

IX. Feedback limitado

Vendendo para lojas e livrarias, ainda mais as de pequeno-médio porte, você tem acesso direto aos donos e vendedores que por sua vez tem acesso direto aos clientes. Tem algum problema em todos aqueles mangás? O dono da livraria avisa a editora na hora e pergunta como proceder. Já o jornaleiro só pode olhar para sua cara sem saber o que fazer.

Sem contar que em casos de esgotamento a editora descobre imediatamente pois começa a receber vários pedidos, dando-lhe chance de fazer reimpressão antes do esgotamento total. No caso da distribuidora, como os jornaleiros não têm como avisar e poucos tentam fazer mais pedidos, a editora demora um tempo para ser avisada que vendeu tudo. Às vezes só será avisada quando, no ato do recolhimento, perceberem que não tem o que recolher.

É curioso, por exemplo, quando uma editora alega esgotamento, mas a banca ali da esquina tem o dito cujo. Na verdade, como é tudo descentralizado, o que ocorre é que aquilo esgotou na editora e na distribuidora, não nos pontos de venda. Vira esgotamento por não ter como atender os pedidos por mais volumes.

X. Falta de serviço diferenciado

Se faz necessário uma troca de certo produto ou você gostaria de encomendar certos volumes? O lojista faz isso e já repassa para a editora. No caso de bancas, o jornaleiro só troca por outro que tiver ali ou dá o dinheiro da volta, não pode fazer encomendas, não sabe informar nada e jamais falou com a editora (nem sabe qual é a editora).

Muitas lojas e livrarias pequenas não só encomendam para você, como te avisam por redes sociais e aplicativos. Alguns fazem lista de interesse e reservam, você pode ir tranquilo sabendo que o seu volume tá lá reservado te esperando. Eles negociam, seguram, ajudam, sabem tirar dúvidas, sabem coisas sobre a séries, sabem dar sugestões.

Livrarias e lojas têm serviço diferenciado que é impossível nas bancas e tudo isso por um preço menor para todo mundo! Vale a pena comentar que livrarias maiores já começam a ser muito setorizadas e esse feedback se perde, mas ainda é possível fazer trocas e encomendas facilmente.


Como seria o ideal?


i. O que devia ser feito

Na prática, quase todos os mangás deveriam sair das bancas e ir para as livrarias e lojas especializadas. Por que “quase”? Porque existem títulos que poderiam e deveriam continuar indo também às bancas e ir conquistando leitores. Coisas como Naruto podiam estar nas bancas. Mangás voltado ao público infantil têm que estar do lado da Turma da Mônica. Mas o que é que os mangás adultos estão fazendo na banca?!

As lojas e livrarias já têm um grande trunfo nas mangas, elas podem dar descontos que banca não pode. E as editoras deviam estimular esses pontos com atos promocionais com extras para apenas vendas em lojas e livrarias, ou recebimento antecipado. A NewPOP e LP&M fazem isso, aliás, o Japão faz isso.

Isso de certa forma vem acontecendo, todas as editoras têm lançados coisas “só nas livrarias” aqui e ali. Mais recentemente a NewPOP decidiu passar a maioria de seus títulos para as livrarias e abandonar as bancas.

ii. O que podemos esperar do futuro se isso der certo?

Várias coisas muito interessantes:

Aumento de qualidade. Parte 1. A editora não vai precisar lançar volume transparentes ou de papel de má qualidade para continuar tornando viável seus lançamentos naquela faixa de preço.

Aumento da qualidade. Parte 2. Sem o perigo dos maus-tratos e envios de um lado a outro, além das formas de pagamento e parcelamento, as editoras podem passar a investir em edições mais luxuosas e mimos.

Criação de comunidades. Se todo mundo passa a ir nas mesmas lojinhas comprar os mangás fica mais fácil encontrar pessoas que tem o seu mesmo interesse. Alguém para dar sugestões e discutir as histórias. Vira um ponto de encontro, logo também um ponto fácil de trocas, de descobrir aulas e atividades direcionadas a esse grupo.

Aumento de visibilidade. Agora com mangás organizados por tipo, nomes, estilos, etc, fica muito mais fácil de se descobrir novas séries, de conhecer outras publicações. Dá até gosto de olhar estantes e prateleiras organizadas cheias de novas oportunidades.

Aumento de nichos. Diminuição de custos, maior visibilidade, criação de pontos especializados, tudo isso permite que mais nichos sejam trazidos. Veja você que é bem mais barato colocar 2 volumes daquele yuri na caixa de 100 outros volumes para cada loja do que pagar uma distribuição só para ele!

Possibilidade de eventos. Se existe um ponto de venda forte e centralizado na sua cidade, fica fácil fazer eventos! Tem um mangaká no Brasil? A editora sabe para onde levar eles! Dá para fazer seção de autógrafos com os artistas brasileiros. Dá para fazer eventos de lançamentos, promoções e palestras diferentes. Coisas que já acontecem desde tempos na Comix em São Paulo, por exemplo.

iii. Motivos para esperança

Anos atrás achar uma loja especializada era impossível, mesmo a grande São Paulo tinha apenas uma grande: a Comix. Hoje em dia, não só há várias onlines e físicas na capital paulista como apareceu várias em outros estados. Isso mostra uma crescente demanda por esse tipo de serviço e que há público consumidor para criá-las!

As próprias editoras têm lançado coisas específicas para esse tipo de loja, como LP&M, JBC e NewPOP. Esta última já lança mangás voltados apenas para livrarias e diz “dar muito certo” e, no NewPOP Day, afirmou que a NewPOP anda tendo enorme demanda de lojas, “todo mundo quer trabalhar com os nossos produtos”, afinal eles estão forçando os leitores a sair de sua zona de conforto e os leitores estão, sim, indo atrás. Recentemente até informou que a maioria dos lançamentos agora nem irão às bancas.

Dá, sim, para mudar radicalmente esta situação. Dá, sim, para ter uma loja ou livraria com mangás na sua cidade (assumindo que você não more no fim do mundo).

iv. Os excluídos

É claro que sair das bancas representa um problema para cidades e localidades sem livrarias ou lojas, mas da mesma forma, há cidades sem bancas também. Mesmo cidades que possuem bancas de revistas não atendem a todos. Não raras vezes, uma pessoa que mora na periferia precisa pegar ônibus para ir ao centro da cidade, pois nem no seu bairro nem nos bairros ao redor há bancas de revista. O leitor então tem que ir atrás online e arcar com suas escolhas residenciais. Não é culpa de editora alguma que sua cidade consuma tão pouco livro que nem uma livraria tem.

Outros problemas com a mudança são as localidades onde os Correios não chegam, especialmente no Rio de Janeiro por causa da constante violência e roubos dos entregadores. Mais uma vez, a culpa não é da editora e cabe ao leitor arcar novamente com a sua escolha residencial, é um problema social dessa comunidade e que não pode restringir a decisão para todo o país. Algumas opções são 1. utilizar-se de Sedex (que entrega com escolta armada), 2. utilizar empresas que trabalham com transportadoras, 3. reservar e fazer pedidos nas lojas e livrarias distantes e mensalmente buscar seus produtos.

As editoras não podem fazer escolhas pensando nas minorias, se o local onde você vive tem difícil acesso aos produtos, cabe a você aceitar sua condição e buscar soluções e opções. Ficar bravo com a editora porque não há livrarias na sua região é como culpar as produtoras de filme por não haver cinema na sua região. Editoras são empresas regidas pelo lucro, não há “direitos iguais” ou até “direitos de consumo”, se sua região é problemática, ela será deixada de lado, assim como no passado distantes mangás não eram vendidos em várias regiões fora do sudeste.

***

O fato é que claramente cada vez mais as editoras, de todos os seguimentos, têm deixado as bancas, e esse é um passo natural, como podemos ver em todos os outros mercados de mangás. E isso é extremamente benéfico, pode ser a razão da editora finalmente trazer aquele mangá que você tanto quer. Não adianta fazer chilique e lutar contra. Se adapte, use sua criatividade.

O irônico é que esse pessoal que é contra e insiste em receber em bancas é igualmente contra os reajustes e aumentos de preços. Pois fique sabendo que por causa do aumento do combustível e da mudança/aumentos de imposto a Dinap também sofre reajustes periódicos que pesam bastante nas publicações. Fora que como é muito mais caro, a diminuição de tiragem igualmente causa aumentos grandes. Se quer comprar nas bancas, não vale abrir a boca para reclamar de aumentos.


Post Scriptum


Coincidências são coisas muito curiosas, quando comecei a escrever este texto em janeiro deste ano, jamais imaginaria as mudanças que estavam para acontecer como a abolição da setorização pela JBC e a mudança de distribuição da NewPOP.

Fora de ordem e contexto, talvez minha coluna comece a parecer como uma coluna de apoio às editoras, o que é algo que jamais imaginei fazer. Adiei e alterei o post tantas vezes, com medo de que a minha “visão” do mercado fosse confundida com uma defesa às decisões editorias, finalmente decidi por lançar e encarar seja qual for a reação dos leitores.

Eu particularmente prefiro interpretar de que estou no “caminho certo” e de que aquilo que defendo em posts como este aqui está “correto” ou pelo menos é perfeitamente lógico. Longe de não cometer nenhum erro ou de saber de tudo, fico pessoalmente satisfeita de ver o que defendo e acredito ganhar vida.

Obrigada como sempre pela atenção dedicada e me perdoe por este seguimento offtopic. ^^


Post Scriptum 2


Março de 2017, faz mais de um ano que escrevi este artigo. Atualmente a realidade mudou absurdamente, várias séries sendo exclusivamente lançadas em lojas, várias dessas com acabamento diferenciado (como o Kanzenban de CDZ), exatamente como havia sido defendido aqui.

A mudança entretanto continua polêmica, mas é inegável o público de pessoas que agora compram quase que exclusivamente de livrarias e lojas, especialmente da Saraiva e Amazon que apresentam descontos e fretes muito acessíveis.

Contudo, ainda é cedo para “cantar vitória”, a maior editora de mangás do país, a Panini, continua sem trabalhar com lojas e livrarias diretamente, com várias obras sem ISBN (que por isso não podem ser comercializados fora das bancas). Também é incerto se a mudança vem apenas como resposta à crise ou a caráter permanente. Resta esperar e ver que caminhos o mercado tomará! 🙂


Desmistificando é uma coluna semanal, lançada nas quintas-feiras, sobre o mercado e mangás brasileiros e internacionais. Você pode ver todas as outras postagens anteriores desta coluna aqui. Sugestões e comentários também são sempre bem-vindos! 🙂

39 Comments

  • Felipe

    Muito bom o artigo! Apesar de concordar com o que está escrito, devo confessar que não tenho problemas com relação à integridade física dos mangás vendidos em bancas. Pelo menos, não no meu caso, em que a dona da banca aqui perto de casa é extremamente cuidadosa e deixa a banca sempre limpa e organizada. Os mangás que eventualmente aparecem por lá com amassados, rasgados, essas coisas, aparecem por culpa da transportadora. Mas acredito que esse meu caso seja uma exceção, e não a regra, pois, pelo que vejo pelas bancas por aí, é tudo zoado mesmo, sem cuidado, etc.

  • […] Se isso te incomoda e o problema não for da gráfica e da editora, mas motivos externos como a DINAP, considere passar a comprar via assinatura, lojas oficiais, lojas especializadas e livrarias. É claro que isso não significa que jamais haverá problemas, mas diminui significativamente os maus-tratos. (Pareço uma disco riscado, mas bancas são terríveis para livros…) […]

  • Esse texto me faz pensar o quão inteligente a NewPOP está sendo de cancelar a distribuição de seus produtos nas bancas e isso me entusiasma! Espero que essa editora, que é visionária em vários sentidos, consiga superar Panini Comics e JBC nos quesitos que ainda não superou, já tendo superado em muitos até agora.

  • “Não preciso nem comentar que monopólio significa que o serviço nunca melhora, a falta de competição faz a empresa cair em vícios e falhas que seus consumidores não têm outra escolha a não ser aceitar. (Tipo a competência dos Correios, sabe?)” hahahahahahah “Amo/sou ironias”. XD Que texto lindo (sem ironia)! Parabéns! 🙂

  • Keiko-chan

    Eu gostei muito da essência da matéria da Roses e sempre gosto, e o que mais gosto também é quando vejo os comentários, e vejo pessoas maduras discutindo cordialmente. (Isso me deixa feliz.)
    E com esse Desmistificando que a Roses faz me abriu muito sobre os mangás aqui no Brasil, porque eu parei de ver eles só como um Hobby, ou algo que tenho prazer em ler, mas também algo que futuramente possa fazer parte do meu cotidiano trabalhístico. (Quero ser Ilustradora.)
    Hoje eu fui pegar minha compra do mês numa banca, e claro que percebi que duas capas de mangás que comprei estavam amassadas! (Sim Roses, eu não respondi mais o comentário, porém agora não faço mais caquinha com as minhas economias graças as suas dicas! Arigatô Gosaimasta!)
    Aqui na minha região e na cidades vizinhas é repleta de escolas, ou seja, tem bibliotecas e bancas na minha cidade, e uma revistaria especializada perto das escolas particulares da cidade vizinha, eu compro alguns mangás em bancas e um dos motivos que eu acho chato são esses estraguinhos que ocorrem, gosto de comprar na revistaria porque eu posso vender os meus mangás antigos e poder também encomendar HQ’s e ter mangás especiais que em banca não posso ter, além de lá ter ar condicionado. Mas ainda assim eu não sou muito contra ter mangás em bancas, porque no Brasil o povão compra nelas…Eu coleciono Turma da Mônica Jovem e quantas vezes eu não vi uma criança pegar na banca porque eu fiquei olhando e comprei? Acho que é um mini-merchan que rola e isso é bom de algum jeito. Porém claro que tem desvantagens e tal! :3 { Não consigo opinar muito, mas esse é a minha pequenina opinião!

    • Keiko-chan

      Esqueci de dizer, que sou uma mini-pessoa-que-fuça-bancas, e o jornaleiro que eu tinha amizade, deu O Lobo Solitário 1 e 2 para mim de graça antes de falecer. Nunca vou esquecer dele.

  • pg.

    o problema é que as livrarias daqui são como as bancas e tem um espaço limitado pra mangás.Como já falei inúmeras vezes,nem mesmo em livraria eu nunca vi um número sequer de certos mangás como Zetman,Parasyte e Vinland Saga.Também nunca vi uma Light Novel da Newpop por aqui.

    • Roses

      A mudança obviamente não poderia ocorrer imediatamente, seria um processo de construção. Assim como foi um processo de construção que bancas aceitassem mangás. 15 anos atrás mangá era algo que te fazia rodar as bancas da cidade toda a procura. Não era todo mundo que aceitava o produto “quadrinhos”. Um Brasil onde muitas bancas possuem tal material foi criado aos poucos. É possível fazer o mesmo com livrarias. 🙂

  • Shizuo

    Concordo com o texto, na minha opinião banca é um retrocesso e mangás de banca deveriam ser só os mais famosos e baratos como Naruto, Bleach, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball, etc…

    Eu só consigo ver muito argumentos a favor de distribuir em livrarias e poucos argumentos, ainda mal trabalhados, defendendo as bancas. É mais que óbvio que banca atrapalha e muito o mercado de mangás (em preço, distribuição, inviabilizar reimpressão).

    E vejo também muitas pessoas pautando que tem gente que só descobriu mangás em banca, que a banca ajudou a popularizar os mangás e tudo mais. Porém isso é coisa do passado, hoje em dia é totalmente diferente e muitas vezes comprar pela internet chega a ser até mais vantajoso. Parece até que existem pessoas que em pleno 2016 ainda tem medo de comprar na internet. O mercado mudou muito, mas ainda há gente que pensa que é a mesma coisa de 2005.

    Comecei a comprar mangás a mais ou menos 5 anos, e nunca comprei em bancas. Inclusive percebo a diferença que é de comprar mangás hoje em comparação a 2011, houve uma mudança muito grande, e uma melhora imensa.

  • Mugi-chin

    Ótimo texto Roses, parabéns!

    Agora uma pergunta: tu mora em Santos? Pq eu conheço essa banca da foto aí hein! Huahauahua!!

  • Guilherme

    Roses, concordo com TUDO que vc disse, realmente de que adianta termos banca em todo canto se só consigo encontrar tudo que quero e em boas condições em 1 banca a cada 30!Seria muuuuuiiito melhor se a maioria dos mangá fosse pra livraria e lojas especializadas.Eu já nem compro em banca, já presenciei produtos em condições péssimas, o jornaleiro nunca sabe informar nada, as vezes é até grosso com o cliente, prefiro mil vezes ir a uma livraria, as vezes fico horas lá só paquerando livros, quadrinhos, etc…

  • Tem um povo aí tomando na cabeça por causa de custos. Eles tem apoio dos leitores, mas só isso não tá bastando pra segurar as vendas.
    De boa, se fosse eu, já tinha tirado os gibis da banca e mandado pra livraria, vendendo online, etc.
    Olha só: http://texwillerblog.com/wordpress/?p=64888
    Belo post, como de costume!

  • Anna

    O texto foi interessante, mas discordo em certo ponto, o de que ninguém é árvore enraizada, então, se uma pessoa quer consumir mangá e não tem loja especializada (porque muita livraria não trabalha com mangá e muitas que trabalham, o trabalho não é bom), a pessoa deveria vender sua casa e deixar seu trabalho? Não é assim que as coisas funcionam. Como disseram acima, não é culpa da editora, mas também não é culpa do consumidor.
    Li também que em uma resposta a um comentário você disse: “A verdade é que muita coisa não sobrevive em bancas, basta olhar a lista da Panini de obras abandonadas.”
    Tudo bem, mas isso não está diretamente ligado às bancas. A JBC que eu me lembre só cancelou um título e a grande maioria dos seus títulos vão para as bancas, assim como várias outras editoras que não tiveram títulos cancelados e suas obras foram distribuídas em bancas.

    • Roses

      Vou tentar responder você e a Priscila ao mesmo tempo, que questionaram a mesma ideia.

      Primeiro, peço um pouco de compreensão de que esse pedaço não é nem era a prioridade do texto e realmente ficou cru e mal trabalhado. Na verdade nem pensei tanto assim e imaginei meu público como sendo adultos.

      É claro que existe uma “culpa”, uma responsabilidade. Não que seja culpa única e exclusiva sua. Mas uma culpa social, daquela comunidade.

      Priscila, por exemplo, disse que lia muito e não tinha acesso. Individualmente a culpa não é dela, ela compraria se tivesse. Mas nós vivemos em uma comunidade, na verdade em várias que se englobam em maiores até chegar na comunidade brasileira, mundial e universal. Se o Brasil tem poucas livrarias a culpa é da população é da comunidade e nós somos parte disso. Se o governo não fez a parte deles, quem votou neles é a mesma população. É fácil tirar o corpo fora e culpar todos a nossa volta e esquecer que nossas decisões e escolhas somadas a todas as outras formam a realidade em que vivemos.

      Sabe, eu não escolhi nascer no Brasil ou ser brasileira, isso não significa que não seja responsável ou tenha deveres para com essa sociedade. No pior dos casos, a culpa continua sua, pela chamada “responsabilidade por omissão”, onde a culpa é sua pois você nunca fez nada a respeito ou não fez o bastante.

      Mas voltando à Anna, é claro que eu não me mudaria para ir morar do lado da livraria, todos nós temos nossas prioridades, mas prioridades não são escolhas? Eu vivo na periferia muito longe da cidade e seus “luxos” pois prefiro um bairro rural. A internet e energia cai o tempo todo, não tem nada próximo, leva horas para chegar aos lugares. É isso que eu quis dizer com assumir a responsabilidade. É claro que um dependente (criança ou não), acaba tendo que assumir a responsabilidade pela escolha de outros. Mas a criança ou dependente pode ser indiretamente ou diretamente a causa do responsável ter que morar ali.

      Arrependo-me de ter entrado nesse assunto que nada diz respeito ao texto, mas basicamente é a minha visão, a filosofia que sigo, onde tudo ocorre pela soma de fatores de responsabilidade de todos. Aquela história da teia de aranha, onde todas as decisões tomados por todos os indivíduos causam aquele acontecimento.

      Logo a violência no Rio que causa o roubo dos correios é culpa do leitor que mora no Rio, pois é culpa da comunidade da cidade que “deixou” as coisas chegarem a esse ponto. É claro que quem decidiu certas coisas não foi diretamente o povo, mas prefeitos, por exemplo, mas quem voto no prefeito é essa comunidade, o que faz dela a responsável. É a mesma lógica de quando você culpa a “violência” por ter corrompido o menor de idade que agora usa drogas ou comete crime. Há aqueles que acham que a culpa é apenas daquele cara, que o “vagabundo não trabalha porque não quer”, há aqueles que acham que isso é uma construção social, tipo eu.

      Ficou melhor?

      Adendo, sobre os não cancelamentos da JBC. A JBC teve pouco cancelamento, mas é por que eles têm a proposta de não cancelar e até assumem prejuízos. Isso é tudo segredo, mas, por exemplo, disseram publicamente que Evangelion foi um fracasso total e deu prejuízo. Segundo uma amiga que trabalhava na empresa uns 5 anos atrás, vários desses mangás em hiato que a editora lança dão prejuízo e vários outros também foram mal nas vendas aqui e ali. Nesse ponto a JBC é profissional e assume a responsabilidade de lançar até o final. Futari H foi a única exceção, pois é longo demais e um prejuízo que não dava para arcar. A Panini já é diferente, se não vende bem simplesmente some e não volta nunca mais, eles não tem interesse em assumir os prejuízos. Assim é fácil de visualizar na Panini, mas fica escondido na JBC.

      • Também é minha visão de que todos somos responsáveis. Já fizeram diversas pesquisas com o brasileiro e 70% não leram um único livro no ano passado. Ainda tem uma barreira grande a se vencer. Porém, da forma que você colocou deu a entender que a culpa é do leitor e consumidor já que você omitiu a parcela da editora dizendo que a culpa n é dela. Que bom que foi somente uma má escolha de palavras.
        Abraços!

        • Roses

          Realmente me perdoe pela forma crua que foi exposto. Que bom que pudemos esclarecer! 🙂

  • Concordo com grande parte do que você disse e eu aliás concordo com uma completa distribuição por meio de livrarias em vez de bancas. Só quero rebater alguns pontos:
    “Não é culpa de editora alguma que sua cidade consuma tão pouco livro que nem uma livraria tem.” e “As editoras não podem fazer escolhas pensando nas minorias, se o local onde você escolheu viver (sim, é uma escolha, ninguém é árvore enraizada) tem difícil acesso aos produtos, cabe a você se responsabilizar e buscar soluções e opções.” Nesses dois pontos você foi contra o que disse no final: de não estar apoiando as editoras. Concordo que a culpa não é delas mas MUITO MENOS do consumidor. Vamos ao primeiro “quote”. Não é culpa da editora que na minha cidade não tenha livraria, é verdade, mas também não é culpa minha. Eu leio muito, além de livros e mangás. Pessoas na minha cidade também leem e acompanham mangás, então por que não existem livrarias e as bancas só vendam um nicho dos títulos? Não sei. Talvez pela cultura de que livraria não dá dinheiro, que é melhor abrir uma loja de 1,99 que dá menos trabalho e mais lucro, mas sei tb que a culpa não é minha.
    No segundo vc diz “ninguém é árvore enraizada”. Então se você é menor de idade e mora em uma região desprivilegiada você tem que sentar e chorar ou então insistir para os seus pais que se mudem? Muitas vezes aquele não é um local de escolha, muitas famílias não são aquelas de filmes americanos que saem juntos para comprar a casa própria e os filhos saem correndo na frente para escolherem seus quartos, muitas vezes é somente necessidade e ou mora ali e não mora em lugar nenhum. Não sei se esse é realmente o pensamento, mas pelas palavras que você escolheu a pessoa que vive em uma área de risco vive lá porque gosta, porque simplesmente quer e a grande maioria não é assim. A culpa não é da editora, mas a violência também não é culpa do leitor.

    • Roses

      Oi, Priscila, eu escolhi responder ali embaixo, junto com o comentário da Anna. Se puder ler, obrigada. 🙂

  • Michel

    Antes já erravam usando SOBRE onde deveriam usar SOB, agora o erro é inverter totalmente o uso dessas palavras ? a frase “As editoras não têm controle sob a distribuição” está INCORRETAMENTE ESCRITA, deve ser usada a palavra SOBRE nesse caso (afinal, se elas controlam estão “acima” da distribuição por que a controlam – perceberam a recursividade ?). Revisem antes, por favor.

    • Roses

      Opa, acabou passando, engraçado que eu estava revisando, vi que faltava o acento circunflexo e nem prestei atenção no resto… Kyon, te pago pra quê?!

      Obrigada pelo toque, se ver alguma coisa mais, agradecemos a correção. E calma, respira fundo, deslizes acontecem, como os americanos dizem, foi só um “brain fart”. 🙂

  • Luciano

    Li e reli o artigo e o que posso dizer, alguns pontos posso até concordar com a questão da Dinap que realmente tem um monopólio e não há nenhuma regulação quanto a questão da distribuição , mas acho que é muito utópico da parte do autor do texto querer diferenciar o tratamento dos mangás das HQs, ambos no Brasil são leituras de entretenimento para jovens, se é para mudar a questão da distribuição quanto aos mangás, o mesmo deveria ser aplicado ao encadernados em HQs, além do que achei muito leviano da parte dele dizer que o problema que nem não tem livraria na região e a culpa de não ter muitos leitores no local, meu caro acho que você nunca rodou o Brasil a fundo pra lançar uma falácia dessas, muitos novos consumidores dessas cidades, as vezes dependem dos pais e tem que morar nesses lugares, e sequer tem uma forma de distribuição e entrega decente para que possa realmente ter condições desse tipo de consumo, criando um nicho de livrarias, o fato é que a banquinha ainda é necessário para tal tipo de consumo, e não sejamos elitistas ao ponto de querer aristocratizar a forma de consumo de entretenimento.

    • Roses

      Autora! Nunca afirmei que gostaria de diferenciar das HQs, várias delas já são exclusivas de livraria há muito tempo! Como dito no próprio texto, na verdade, não é mais de adolescente, não. As pesquisas feitas na área mostra que a maioria dos clientes tem 18 a 24 anos. E cada vez mais na faixa dos 24 a 30. A prova disso é que nunca se lançou tanto seinen no Brasil como nos dias de hoje. Mais e mais materiais para +18 anos estão sendo publicados.

      Numa série como Naruto, obviamente que existe muito adolescente comprando, por isso mesmo comentei no texto que há obras que fazem sentido estar na banca.

      Esses mesmos indivíduos que dependem dos pais, dependem deles para comprar livros. E nem por isso Harry Potter vendeu menos… Ou você vai comprar esses livros jovens na banca? Como mudar uma distribuição é uma elitização ou aristocratização quando na verdade a obra fica MAIS ACESSÍVEL em termos de preço e viabilidade?

      Pior ainda, mangá é coisa elitizada, quem consome é a classe média-alta, ou você acha que o cara que ganha salário mínimo é um grande consumidor?

      E existem, sim, distribuições e entregas decentes, se os correios não chegam, as transportadoras das grandes redes chegam! Saravia, Amazon, Submarino têm suas próprias redes de entrega.

      Eu pessoalmente compro apenas da Amazon que leva 2 dias para entregar, ao invés de ter que ir para a banca mais próxima que fica no bairro vizinho ou na super loja especializada que fica a mais de 8 km em linha reta (segundo o google maps XD).

      Não estou defendendo aqui no texto que amanhã todas as editoras parem de trabalhar com bancas. A ideia é que as editoras aos poucos estimulem a compra em meios alternativos, de forma que comece a existir um mercado apenas de livrarias.

      E isso na verdade JÁ acontece, 10 anos atrás se você quisesse comprar mangá online ou era Comix ou era Liga HQ. Hoje em dia tem mais de 30 lojas especializadas em mangá na internet e mais aparecendo o tempo todo! Até sebo especializado em mangá eu já achei, rs!

      Já estamos em um momento em que é viável vender algo apenas para livrarias. Isso mostra o potencial desse mercado. Esse potencial deveria ser cultivado por todos, leitores e editoras.

      A verdade é que muita coisa não sobrevive em bancas, basta olhar a lista da Panini de obras abandonadas. Se houvesse uma comunidade e público forte nas livrarias, você poderia (ao invés de abandonar a série) migrar para as livrarias e dar continuidade.

      Enquanto tudo for para bancas, nada que venda menos de 10 mil será viável a longo prazo. Enquanto isso a CBL estima que a tiragem média de livros no Brasil é de 2,5 mil. Vender na livraria é uma diferença absurdamente imensa. Qualquer nicho poderia ser lançado e se pagar sem problemas!

      Elitização? Muito pelo contrário, mangás para todos e de todos os gêneros!

  • Voltando a aquele ponto, será que editoras de estrutura diferenciadas como JBC que só vive de mangas e que tem até 20 funcionarios fixos sobreviveria só de mangas em livrarias? todas as editoras sempre dizem “nossos produtos dependem das livrarias comprarem” e a realidade é que as livrarias num geral, são bem poucas que levam mangas. A jbc segundo o cassius tem como o seu maior cliente os compradores de bancas e q os de livraria ainda são um nicho do nicho. A JBC q tem que ter o minimo de 17 mangas em bancas, será que conseguiria produzir e dar lucro se vivesse só de livraria no brasil? Se cortasse 16 funcionarios, talvez, mas tambem o numero de lançamentos seria menor.

    Enfim, não acho que os mangás devam sair das bancas, mas acho que tudo deveria ser alternativa, bancas, livrarias, supermercados (nunca vi mangá em um, seria perfeito) e outros tipos de lojas. Não deveria ter opções removidas mas sim adicionadas.

    • Roses

      STX, sim, atualmente vende mais na banca. Mas e se de repente não houvessem mais mangás em bancas esse público não ia simplesmente desaparecer. Eles migrariam para livrarias. Fora que como a distribuição e número de tiragem entre os dois são diferentes, a editora poderia ter o exato mesmo lucro em ambos, mesmo que na livraria vendesse menos e para um público mais limitado.

      Se fosse exclusivo para livrarias e no mesmo preço, a editora não precisaria lançar 17 mangás para pagar as contas, seria bem menos.

      Entenda que quando os custos diminuem, a tiragem mínima para dar lucro também diminui. Como a diminuição do custo de distribuição e consequentemente a diminuição da tiragem mínima, as obras ficam mais baratas e dão mais lucro.

      Não se deve parar de vender às bancas para vender em menos lugar, o problema não é a banca em si, é a forma de distribuição MUITO cara, com problemas, etc, que mais prejudicam do que beneficiam o mercado.

      Nos EUA, por exemplo, redes de mercado e lojas de conveniência trabalham com mangás, é uma distribuição como a para livrarias.

      O que estamos discutindo aqui é se bancas deveria mesmo ser a prioridade. Lembrando que mesmo que parem de distribuir às bancas, isso não significa que a banca não pode ter mangá, mas que o dono agora, lidará diretamente com a editora!! 🙂

  • Bruno

    Se por exemplo Naruto Gold tivesse uma tiragem igual das bancas, mas fosse só pra livrarias, ia sair bem mais barato então?

    Sobre a NewPOP, essa Editora só pode vender bem, porque não é possível que uma editora que lança menos produtos (e ainda de forma mais irregular) que Panini e JBC consiga se manter tão bem assim. Bom pra gente <3

    A Panini já lançou Mangá de livraria?


    Uma pequena dica, não sei se daria algum post:

    Será que daria pra fazer um mercado de Mangás entre Brasil e Portugal aproveitando o idioma?
    Eu tava notando que tem Comics americanos da Panini, não sei se são só alguns ou o que, mas eles tem preço em Real e também em Euro, aí do lado escrito Portugal / Continente
    Não faço ideia de como funciona, mas se eles mantêm isso na capa, alguma coisa deve vender

    • tem várias palavras diferentes em tre o portugues brasileiro e o de portugal, se só no brasil todo certas palavras dão controversia, imagina comparando direto com portugual, palavras comuns pra nós não fazem sentido pra eles e vice versa.

      • Roses

        STX não está errado, mas a verdade é que mangás e obras brasileira são, sim, vendidos em Portugal. Alguns importados por lojas especiais, embora oficialmente as editoras não possam lançar lá!

        Embora existe um problema e impacto de suas línguas com muitas diferenças, ao contrário de nós, os portugueses já têm costume de ler e entender o “nosso jeito”. Recentemente li um artigo que falava como o Portugal estava se abrasileirando, já que a juventude cada vez mais consome nossos produtos, principalmente filmes, novelas e música. De forma que “você” está cada vez mais comum na boca dos jovens.

        Uma prova de que dá sim é o Crunchyroll, que é aberto para Brasil e Portugal, mas é todo feito no português brasileiro. É mais fácil para o português nos entender por estarem mais exposto aos nossos produtos. Por outro lado, nós brasileiros dificilmente ouvimos ou vemos coisas no português lusitano.

        Como você acha que o português lê mangá na net? E os animes? Ele vai esperar um português traduzir ou vai usar as centenas de grupos brasileiros? 🙂

        De certa forma, os portugueses estão ficando bilíngue, hehe.

        • realmente estou notando que os portugueses estão entendo mais a gente do que antes.Entro em sites portugueses de mangás ja não sei mais diferenciar nos comentários portugueses e brasileiros kkkkkk

        • Roses

          De fato! Aconteceu comigo um caso engraçado recentemente, estava jogando online e lá pelas tantas achei um cara digitando em português e tendo dificuldades para entender os que falavam inglês. Lá pelas tantas, depois de ajudar e tal, cansamos de digitar e decidimos falar mesmo. Para minha surpresa a criatura era lusitana e nenhum dos dois conseguia entender o sotaque do outro. Lá fomos nós voltar a digitar sem problema algum. XD

        • Pelo visto, o “país colonizado (Brasil) está ‘dominando’ o país colonizador (Portugal)” (culturalmente). Sei que as novelas brasileiras passam bastante por lá, fazem sucesso, enquanto aqui não vemos novelas portuguesas, por exemplo. O mundo dá voltas, hein?! hehe
          Convenhamos que deve ser muito mais fácil para os portugueses entenderem a nossa pronúncia do português, pois, creio eu, deve ser mais fácil eles entenderem “vogais pronunciadas” do que entendermos “vogais comidas”.

    • Roses

      É difícil dizer o quanto mais barato seria. Já que depende de quanto custa aquela distribuição, se a tiragem diminuiria, se teria menos prejuízo em edições estragadas, etc. Mas no mínimo 10% mais barato, pode chegar a 30%. Drug-On, por exemplo, custa 14 reais, mas tem a mesma característica de obras da editora que custa 15-16 reais.
      Uma forma de imaginar quanto custaria é exatamente indo nas lojas online e checando quanto de desconto eles conseguem dar! 🙂

  • hayashy

    Adorei o seu comentário no final deste “desmitificando”. Você fez a matéria bastante lógico e honesto! Parabéns!

    Eu sou uma das pessoas que moram em fim de mundo (não é por que que eu sou uma árvore), mas por motivo de está sempre perto da minha família.

    No caso de comprar meus mangás e livros sempre busco soluções, como pedia aos meus amigos para comprarem algumas revistas em outras cidades quando estavam viajando e hoje, graças a internet, consigo comprar meus mangás e livros sem pagar custos de frete e nem chatear outras pessoas! E tenho economizado muito mais e comprando mais de uns tempos para cá.

    Há anos que não temos bancas e nem livrarias em minha cidade. Não culpo às editoras e sim as pessoas que não tem o hábito de leitura (afinal temos biblioteca que quase não vai ninguém!) Mas enfim, estava realmente querendo saber muito sobre este tipo de distribuição e não sabia que eu tava pagando mais caro! Foi muito bom saber disso. Espero que esta mudança venha o quanto antes. E que muitas pessoas passem a comprar em livrarias, lojas especializadas e sites onlines de vendas de mangás e livros. E isso facilitará o aumento de pessoas e consequentemente baixar os preços dos mangás, que ainda estão um pouco caro.

    Estou na torcida!!

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